Em Fluxo Continuo

Saturday, November 04, 2006

Mudanças

Nasci em uma casa de madeira com uma escada grande de cimento que subia da rua e chegava no porao, passava pela casa mesmo e se tranformava em um piso onde tinha dois tanques, um para lavar, outro para molho, que era tao, mas tao grande que podíamos nos afogar nele, crianças que éramos. Tinha uma cozinha com fogão à lenha, quentinha. Com quatro anos, mudamos para um lugar enorme, da Comunidade Evangélica. Nossa casa, então, tinha três quartos, duas salas e demais peças. Depois, havia mais uns doze quartos, separados por uma grande porta que fechava o corredor. Cada um tinha uma história, mas a que mais gosto é a de que subíamos nos roupeiros e saltávamos para cima da cama, em momentos festivos e furtivos.

Havia uma grande área fora com árvores frutíferas, uma horta, um galinheiro, a lavanderia, o espaço do varal, o gramado do quintal. Esta é a casa onde estão minhas memórias, este foi o lugar onde mais “estive” em minha vida. Esta casa me viu crescer e eu a vi transformar-se. Vi a área externa desaparecer, vi as avencas do barranco de trás serem substituídas por um estacionamento. Vi o quintal e o campinho transformarem-se em um pavilhão de esportes que servia de moradia para os desabrigados nas enchentes e no restante do tempo para comemorações - esportivas ou não. Vi a deterioração da madeira e os sulcos na umidade nas tábuas. Ela tinha dois pavimentos também, o de baixo com um piso enorme, uma cozinha, uma despensa, um refeitório com mais de 20 mesas para dez pessoas cada, uns seis banheiros externos e uma areazinha com três quartos e um banheiro em separado (o lugar que mais gostava por ser pequeno e aconchegante).

Depois mudei para estudar em Porto Alegre. Morei em um JK na João Pessoa, perto de tudo. Foi minha adolescência, a faculdade de engenharia, tudo novo e – sera? – interessante.

Depois, foi a vez da moradia estudantil, um período com outras percepções e sapiências. No meio teve Marquês do Herval e uma rua paralela a Borges no centro da cidade que não me lembro o nome, onde estive como visita-moradora. Então, sempre na Cidade Baixa, veio a João Alfredo, o término do Jornalismo, outras histórias, outro momento.

Aluguei, pela primeira vez em meu nome, meu apartamento no Bom Fim. Fiz uma reforma nele, havia acabado de sair um traficante de armas dali. A imobiliária foi ótima, contratei um picareta para fazer o trabalho e só me incomodei.

Saí de lá para ir ao Nordeste: Fortaleza, Canoa Quebrada, Natal, Caruaru e Salvador. Sem conhecer, sem nada entender, havia decidido que ali iria morar. Cheguei de ônibus com minha mochila e fui para o Albergue da Juventude no Pelourinho. Isso pela manhã, pela tarde peguei a chave do apartamento onde morei no Santo Antônio. No outro dia mudei para uma das vistas mais lindas que já tive. Fiquei lá seis meses, mudei para a Pituba, para morar com minha grande amiga-irmã em um apartamento de cobertura muito lindo e perto de onde todo mundo caminha na orla.

Saí de lá para ter minha casa, nos Barris, um apartamento no mesmo prédio que meu amor. Ele Morava no terceiro andar, eu no oitavo. Mas quis buscar a utópica tranquilidade da praia em Salvador: Stella Maris, e o barulho me fez aguentar quarto meses. Uma experiência que não recomendo a ninguém – mas ainda escreverei sobre ela J e a casa era uma gracinha com vista para o mar dos dois lados.

Voltei para a civilização soteropolitana e para o Canela, bairro feliz, cheiroso.

Então mudei-me para Austin, onde morei um mês perto do campus, em uma área somente de estudantes, outro mês no extremo norte da cidade, 45 min a uma hora de ônibus do campus, e depois aluguei meu apto na beira do Colorado, muito feliz. Outra mudança. E hoje estou fazendo outra, ou melhor, deveria estar fazendo, mas como fiquei presa no trânsito e não consegui pegar a chave até as 5h P.M. da sexta-feira, fiquei sem energia elétrica em meu apartamento atual e sem a chave do apartamento para o qual estou indo.

E como o sistema americano não permite entregar a chave fora do horário divulgado como sendo de funcionamento, estou com velas nos casticais presenteados em meu apto.

Por que tantas mudanças? E eu sei? Só sei que paz de espírito não tem preço.

Esta é a terceira vez em minha vida que coloco minha casa dentro de poucas malas. J Mas desta vez não vale, pois minha casa mesmo é onde está meu coracao, com todas as nossas coisinhas, aqui é uma extensão.

Sou canceriana, carrego meu mundo.

E cá estou na sala de ginástica do condomínio, sentada sobre a esteira que desliguei para carregar a bateria do computador. Cá espero com o chimarrão a tiracolo e já frio, questiono-me e escrevo…. 84% cheia, repleta.

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